IV Simpósio de Tecnologia de produção de cana-de-açúcar
Tive oportunidade de participar de mais um evento, juntamente com o meu filho Gilberto Orlandi Neto, estudante de Agronomia na Universidade Federal de Lavras (UFLA), desta feita na UNIMEP em Piracicaba e também promovido pelo (GAPE) Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão da ESALQ-USP, cujo tema abordado foi a Tecnologia de Produção da Cultura de Cana-de-Açúcar.
Como Diretor do Sindicato Rural de Palmital e por conseqüência neste ato representando os Agricultores do nosso município, tive a oportunidade de me inteirar de novas tecnologias para o setor sucroenergético, até ha bem pouco tempo denominado setor sucroalcooleiro.
A primeira palestra foi proferida pelo ex-ministro da Agricultura e Coordenador do curso de Agronegócios da FGV, o Dr. Roberto Rodrigues, que mostrou o cenário atual do setor e os gargalos a serem solucionados para sair, talvez da maior crise do setor sucroenergético, considerada como estrutural.
Entre os avanços mais recentes anunciados, podemos citar a transformação do caldo de cana (garapa) em diesel, com a utilização de um novo tipo de levedura (geneticamente modificada) para o processo de hidrolização da molécula de sacarose.
Também foi relatado, em um estudo feito pela FAO, que indica que nos próximos 25 anos, em função de vários fatores, a demanda mundial por alimentos deverá crescer em 42% (um número até conservador, já que 50% seria o mais correto) e que, até 2030, a demanda mundial por energia deverá crescer 58%.
Outro dado relevante para se analisar para cenários futuros é que no Japão, EUA e Europa, a cada 100 habitantes, 60 possuem veículos automotores, enquanto que na China e na Índia, os dois países mais populosos do globo, este índice é de 3 veículos por 100 habitantes, portanto caso mudanças ocorram nesta equação, existe todo um mercado a ser conquistado, e o Brasil poderá se beneficiar desta situação, pois a maior parte da sua superfície se encontra entre os trópicos de capricórnio e de câncer, onde se tem sol o ano inteiro. Também outros países se encontram nesta faixa tropical (países Africanos) e o continente Australiano, que é benéfica para a cultura da cana-de-açúcar, que é uma cultura de metabolismo C4.
Então a pergunta que se faz é porque com todo este cenário em potencial o setor sucroenergético vive um momento de crise. E a resposta pode ser a seguinte: Não existe um mercado para o etanol a nível mundial (porque somente o Brasil atualmente poderia atender esta demanda) e na visão dos países com potencial para possíveis importações o Brasil não é visto como um país sério) ou seja eles tem medo de assumir um compromisso com o Brasil. Quando outros países passarem a produzirem etanol cria-se um mercado mais competitivo e equilibrado. Os países do continente Africano possuem aptidão para a produção de etanol a curto espaço de tempo, inclusive grandes investimentos estão sendo alocados pelos países emergentes, como a China, Índia etc. e inclusive o Brasil está criando unidades de pesquisa através da Embrapa, para alavancar novos conhecimentos em tecnologia de produção para aquele continente assolado pela fome, miséria e guerras étnicas entre os vários povos africanos (tribos).
Para se ter uma idéia do mercado em potencial que existe no mundo para o etanol, só nos EUA até 2022, o consumo será de 136 bilhões de litros de etanol. É evidente que nesta demanda várias fontes de etanol serão utilizadas (etanol de milho, etanol de celulose e também etanol de cana-de-açúcar), onde o Brasil poderá se beneficiar desta fatia do mercado Americano. Para isto acontecer quebras de barreira tarifárias nas importações Americanas devem ser revisadas e o Brasil se enquadrar nas exigências de rastreabilidade e sustentabilidade no sistema produtivo de etanol de cana-de-açúcar. Talvez para se alcançar os objetivos propostos fosse necessário o Governo Federal criar uma Secretária Nacional de Energia, onde diversos gargalos que afetam o setor poderiam ser discutidos, entre eles principalmente a construção de alcooldutos, o que melhoraria em muito a logística de escoamento da produção, pois o etanol brasileiro deixaria de ‘’passear’’ em caminhões tanques por esse país afora em rodovias pedagiadas e esburacadas, onerando desta maneira toda a movimentação do ‘’nosso’’ etanol.
Em outra palestra proferida pelo Engenheiro Agrônomo José Luiz Duarte Coelho da John Deere, ele mostrou que em 65% do território do Brasil pode-se fazer uma agricultura correta e sustentável, portanto temos espaço suficiente para aumentar a produção de alimentos com desmatamento zero e produzir energia verde para atender a demanda mundial. Hoje temos apenas 8 milhões de ha sendo utilizados com a Cana-de-Açúcar.
Para se ter uma idéia da grandiosidade do setor sucroenergético Brasileiro, a nossa produção este ano será de aproximadamente 600 milhões de toneladas, enquanto a Austrália, o segundo produtor mundial de Cana-de-Açúcar irá produzir pouco mais de 30 milhões de toneladas. Apenas como exemplo o Grupo COSAN (maior grupo esmagador de Cana-de-Açúcar do mundo), irá processar nesta safra cerca de 50 milhões de toneladas, quase o dobro da Austrália.
Outro dado também relevante é que no Estado de São Paulo, maior produtor de cana do país, 30% da matriz energética é gerado pelo setor sucroenergético e várias ações estão sendo tomadas pelo governo do Estado, através da Secretária do Meio Ambiente para se produzir o denominado ‘’Etanol Verde’, com redução das queimadas nos canaviais paulistas e antecipação da colheita mecanizada sem queima para 2014 em áreas mecanizadas e 2017 para áreas não mecanizadas, com declividade superior a 12% e outras medidas de caráter ambiental, social e de marketing estão sendo implementadas sob a coordenação da Única (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), cujo Presidente o Dr. Marcos Sawaya Jank tem sido um baluarte em defesa de toda a cadeia produtiva do setor sucroenergético.
Também outro assunto que chamou a atenção dos participantes do evento foi a palestra com o tema: Nova Tecnologia Plene de Plantio a partir de gemas da Cana-de-Açúcar. Este sistema desenvolvido pela Syngenta em parceria com a John Deere, consiste ao contrário do sistema convencional que utiliza toletes com 3 gemas ou seja 10 a 12 gemas por metro linear de sulco, a utilização de toletes de apenas 3 a 4 cm com apenas uma gema e mecanicamente se efetua o plantio. Para isso se viabilizar, todo um trabalho de preparação deve ser adotado com a aplicação de inseticidas e fungicidas e a utilização de outras informações técnicas no manejo e transporte dessas gemas até o plantio, levando-se em conta inclusive os fatores de umidades e temperaturas, que se não forem controladas, poderão influenciar na desidratação e morte destas gemas, bem como danos mecânicos, podem colocar em risco o sucesso deste sistema que é promissor e já vem sendo testado por várias Usinas que atuam no setor sucroenergético.
Face a todos estes relatos, chego a acreditar que apesar dos entraves que vive o setor e a crise que estamos vivenciando no momento, acredito que existem saídas para equacionar e equilibrar este segmento tão importante para o Brasil e para o Mundo, que é o de produzir energia renovável e com isso diminuir ou minimizar os prejuízos causados pelos gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global, hoje tido como a principal preocupação dos países, principalmente aqueles países em desenvolvimento ou emergentes, que cada vez mais dependem de alimentos e energia para atender a demanda de sua gigantesca população.
Na minha visão para que isto se torne realidade, torna-se necessário cada vez mais a participação efetiva do governo federal, melhorar a logística de escoamento da produção através da construção de alcooldutos, suporte de crédito para estocagem de etanol no pico da safra, financiamento de capital de giro para as agroindústrias, e por extensão aos fornecedores, lutar junto aos organismos internacionais para se quebrar barreiras tarifarias às nossas exportações e com isso novos nichos de mercados surgirão, implementar o mais rápido possível o zoneamento agroecológico para a cultura da Cana-de-Açúcar e também repassar tecnologias de produção de etanol para outros países, para se criar um mercado mais competitivo e mais seguro para os países que querem se utilizar de etanol na sua matriz energética.
Com respeito às Agroindústrias, a produção em maior escala, permitirá acesso a novas tecnologias de produção, com o aproveitamento da biomassa na co-geração de energia elétrica, também a nova sistemática de limpeza a seco poderá ser implementada, principalmente nas Usinas que estão sendo instaladas, onde se predomina a colheita mecanizada e a escassez de água é fator limitante para a limpeza úmida, este sistema reduziria em muito as perdas de rentabilidade da cana na esteira, bem como uma melhor eficiência na eliminação de impurezas minerais que poderiam danificar as moendas, também num futuro muito próximo a utilização do sistema Plene de plantio, possibilitaria a renovação de canaviais em maior escala. Enfim as tecnologias para o setor estão cada vez mais sendo disponibilizadas, porém para a viabilização de todo este pacote tecnológico, o setor tem que ser melhor remunerado, bem como toda a cadeia produtiva envolvida.
Esperamos que o setor sucroenergético consiga sair desta crise o mais rápido possível, para que toda a sociedade se beneficie dos efeitos positivos de se produzir energia renovável, com respeito ao meio ambiente e a produção de alimentos seja também priorizada no sistema produtivo brasileiro, para atender cada vez mais o consumo interno com produtos saudáveis, porém com ênfase e preocupação de não se desmatar mais áreas e garantir a sobrevivência do bioma amazônico e outros biomas ameaçados pela ação do homem, muitas vezes usados de maneira indiscriminada, sem respeitar as ‘’leis da natureza’’ e as peculiaridades de cada ecossistema.
Engenheiro Agrônomo Benedito Hélio Orlandi (Bertola)
Possui Graduação pela UENP- Universidade Estadual do Norte do Paraná em 1975